Tribunal argentino é solicitado a prender aliados do presidente no escândalo LIBRA

Um autor no caso criminal argentino que investiga o escândalo LIBRA solicitou a prisão imediata de duas figuras próximas ao presidente Javier Milei, que estiveram associadas ao lançamento do token em fevereiro.

Desenvolvimentos recentes na investigação também revelaram que Milei subestimou significativamente o número de varejistas argentinos impactados pela queda de preço do LIBRA.

Juiz Avalia Pedido de Prisão

A investigação em andamento sobre o escândalo LIBRA na Argentina continua a complicar a posição de figuras intimamente associadas ao lançamento do token.

Esta semana, tanto a comissão parlamentar quanto a investigação criminal paralela sobre o escândalo LIBRA tiveram novos desdobramentos.

Martín Romeo, especialista em criptoativos e autor atuante na investigação criminal, solicitou na terça-feira que o juiz federal Marcelo Martínez de Giorgi ordenasse a detenção de Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy, dois assessores do presidente que foram rapidamente ligados ao lançamento do token. 

O pedido segue uma série de revelações feitas pela comissão parlamentar. Ao analisar essas informações para a investigação criminal, Romeo concluiu que Novelli, Terrones Godoy e o investidor americano Hayden Mark Davis — que também foi ligado ao lançamento do LIBRA — realizaram uma série de transações irregulares antes do escândalo.

Com base nessas informações, Romeo solicitou que o tribunal ordenasse a detenção de Novelli e Terrones Godoy, que residem na Argentina. Ele argumentou que ambos representavam risco de fuga, pois Novelli possui cidadania italiana e Terrones Godoy tem residência permanente no México.

O juiz ainda não se pronunciou sobre o pedido. No entanto, as descobertas mais recentes apresentam evidências significativas contra os indivíduos intimamente ligados ao escândalo LIBRA.

Comissão Coleta Dados de Transações de Wallets

A comissão parlamentar, liderada pelo deputado Maximiliano Ferraro, recebeu recentemente novas informações sobre indivíduos associados ao lançamento do LIBRA.

“Com base nos pedidos de informação que fizemos a várias plataformas de exchanges de criptoativos, obtivemos dados que não apenas refutam diretamente as declarações do presidente Milei, mas também começam a demonstrar a conexão entre os principais envolvidos, tanto dentro quanto fora do país”, disse Ferraro ao BeInCrypto em entrevista em espanhol. 

Entre as plataformas que responderam estavam Binance e Gate.io, que confirmaram que Novelli tinha uma wallet virtual na primeira, enquanto Terrones Godoy possuía uma na segunda.

Essas informações permitiram que a comissão parlamentar e os autores envolvidos na investigação criminal reconstruíssem o circuito financeiro antes e depois do lançamento.

Davis Transfere Fundos Após Encontro com Milei

Romeo, que teve acesso às informações adquiridas pela comissão parlamentar, começou a rastrear os movimentos dos endereços de wallet de Novelli e Terrones Godoy por ocasião do lançamento do LIBRA. 

Ele também conseguiu rastrear o endereço da wallet de Davis a partir do momento em que Davis reembolsou o fundador da Barstool Sports, Dave Portnoy, os US$ 5 milhões que ele perdeu após o lançamento do LIBRA.

Em 30 de janeiro, Milei recebeu Davis na Casa Rosada, sede do poder executivo em Buenos Aires. 

Romeo descobriu que Davis realizou duas transferências totalizando 1.015.000 USDT para uma conta da Bitget naquele mesmo dia. Poucos dias depois, US$ 695.000 desses fundos foram transferidos para a wallet Binance de Novelli, enquanto os US$ 320.000 restantes foram enviados para o equivalente argentino de um pequeno banco privado ligado a Novelli e Terrones Godoy. 

🔴A wallet que muda tudo: A financeira de confiança de Novelli onde terminou o dinheiro das propinas🔴Identificamos uma wallet na rede TRON (USDT) (endereço: TEUYShkqNM6ug92pLiJ2WdXFT86xQGFL6P) utilizada como financeira intermediária por Mauricio Novelli (MN) e… pic.twitter.com/LQCwrflGNk

— Martin Romeo (@MartinRomeo_) 21 de outubro de 2025

“O que eu não sei, porque ainda não recebi essa informação, é quem é o dono da conta BitGet,” esclareceu Romeo ao BeInCrypto. 

Em 3 de fevereiro, apenas onze dias antes do lançamento do LIBRA, Davis realizou outra transação. Ele enviou 1.991.000 USDT para uma conta desconhecida da BitGet. 

“US$ 800.000 vão para uma hot wallet que eu não sei de quem é, e não sei se conseguirei rastrear isso, e outros US$ 1.191.000 vão para o banco [associado a Novelli e Terrones Godoy],” explicou Romeo. 

No dia seguinte, câmeras de segurança registraram Novelli, sua mãe e sua irmã manipulando vários cofres em uma agência do banco Galicia no bairro Martínez, em Buenos Aires. As imagens mostraram a mãe e a irmã de Novelli carregando uma mochila e uma bolsa cujos conteúdos eram indiscerníveis. 

Banco Galicia da agência Martínez: é aí onde estão os 2 cofres que MAURICIO NOVELLI abriu em 4 de fevereiro e sua mãe e irmã ESVAZIARAM 3 DIAS DEPOIS do golpe LIBRA (17 de fevereiro). Ambas acessaram os cofres com autorização de Novelli. Não é o… pic.twitter.com/97pJL7Yca9

— Julia Strada (@Juli_Strada) 26 de junho de 2025

De acordo com Ferraro, a comissão parlamentar está atualmente analisando uma hipótese sobre se o dinheiro que Novelli e Terrones Godoy receberam através do banco privado era o mesmo dinheiro que Novelli presumivelmente armazenou na agência Galicia. 

Também está sendo analisado se Novelli retirou esse dinheiro dos cofres após o lançamento do LIBRA. 

Além das transações que a comissão parlamentar e Romeo conseguiram rastrear, as informações recebidas das exchanges centralizadas complicam ainda mais a suposta participação de Milei no lançamento do LIBRA.

Dados Oficiais Contradizem as Alegações do Presidente

Durante uma entrevista na televisão nacional dias após a queda do preço do LIBRA, Milei disse que o número de investidores argentinos afetados pelo lançamento do token era de apenas um dígito. 

Segundo informações que a comissão parlamentar recebeu da Ripio, uma das principais exchanges centralizadas da Argentina, os dados mostram um cenário diferente.

“A Ripio nos informou que 1.358 residentes no país compraram o token $LIBRA, enquanto o próprio Milei havia dito que ‘não mais que cinco argentinos’ tinham sido afetados. Ele mentiu na televisão nacional para minimizar um golpe massivo,” disse Ferraro ao BeInCrypto. 

Esse número não contabiliza a quantidade de argentinos que usaram plataformas descentralizadas para comprar o token, nem aqueles que compraram LIBRA no exterior. 

Ele acrescentou que Milei ainda não explicou como obteve o número de contrato de 43 caracteres que publicou em sua conta X para promover o LIBRA. Ferraro destacou que a informação não era pública antes daquela mensagem.

$LIBRA: CADA OBSTÁCULO CONFIRMA QUE ESTAMOS NO CAMINHO CORRETOHoje voltou a se reunir a Comissão Investigadora sobre a criptomoeda $LIBRA. Com quórum regulamentar e a presença de 16 de seus 28 membros, apesar das manobras protelatórias do Governo e da falta de… pic.twitter.com/4jTgXiFykw

— maxi ferraro 🎗️ (@maxiferraro) 21 de outubro de 2025

No mês passado, a comissão parlamentar também convocou Milei e sua irmã Karina, que atualmente atua como Secretária-Geral da presidência, para prestar depoimento sobre sua suposta participação no evento. 

“O presidente Javier Milei não respondeu ao pedido que enviamos a ele duas vezes, que incluía um questionário bastante simples e conciso. Sua irmã, Karina Milei, também não compareceu para prestar depoimento nas duas ocasiões em que foi convocada, nem ofereceu qualquer cooperação propondo uma data alternativa,” acrescentou Ferraro. 

Novelli e Terrones Godoy, que também foram citados pela comissão, também não compareceram. 

Na terça-feira, a comissão aprovou uma convocação formal para que Milei preste depoimento. Também autorizou Ferraro a buscar assistência das autoridades para garantir o comparecimento de sua irmã, Karina, juntamente com Novelli e Terrones Godoy.

“Se eles não vierem depor, exerceremos essa autoridade assim que o Tribunal Federal decidir sobre nosso recurso,” disse Ferraro.